Direito Digit@l

Inteligência artificial: como a tecnologia está revolucionando o mercado de trabalho e além

O uso de inteligência artificial no ambiente de trabalho está se tornando cada vez mais comum. Juízes, product managers, CTOs, profissionais de marketing, saúde e engenheiros de vendas estão recorrendo a ferramentas como o ChatGPT e outras para maximizar resultados de suas atividades e garantir mais eficiência em suas tarefas diárias.

28/4/2023

O uso de inteligência artificial no ambiente de trabalho está se tornando cada vez mais comum. Juízes, product managers, CTOs, profissionais de marketing, saúde e engenheiros de vendas estão recorrendo a ferramentas como o ChatGPT e outras para maximizar resultados de suas atividades e garantir mais eficiência em suas tarefas diárias.

Mutatis mutandis, diversos profissionais estão utilizando o ChatGPT para aprimorar suas habilidades em diversas áreas. Por exemplo, magistrados brasileiros estão utilizando a ferramenta para comparar decisões e entender como podem ser mais precisos em suas sentenças e comunicações. Além disso, há relatos de um product manager que utilizou o sistema para obter sugestões de métricas a serem incluídas em uma pesquisa, um CTO que solicitou dicas para uma conversa de 30 minutos com o VP de data science e um engenheiro de vendas que não cria mais apresentações sem a ajuda do programa.

A crescente adoção de ferramentas de inteligência artificial no mercado de trabalho tem sido evidenciada por diversos casos, como os mencionados anteriormente. Na área de investigação digital, as ferramentas de IA têm se mostrado extremamente úteis, permitindo a coleta de informações importantes em fontes abertas em questão de segundos, bem como a detecção de ameaças de novos ataques em escolas e outros ambientes. A investigação forense computacional é um processo complexo que envolve a coleta, análise, preservação e disponibilização de evidências digitais presentes em dispositivos informáticos, com o objetivo de identificar atividades criminosas ou violações de segurança cibernética. Especialistas em forense digital, que possuem conhecimentos técnicos específicos em tecnologia da informação, privacidade, segurança da informação e direito, são responsáveis por executar esse processo.

Segundo a plataforma Fishbowl, cerca de 30% dos 4,5 mil profissionais entrevistados em janeiro deste ano já usaram o ChatGPT ou outro programa de IA em suas atividades. Isso evidencia o potencial dessas ferramentas para automatizar tarefas rotineiras e mecânicas, liberando as pessoas para trabalharem com mais criatividade. Erik Brynjolfsson, diretor do laboratório de economia digital de Stanford, afirma que o ChatGPT "eliminará muita rotina e trabalho mecânico e deixará as pessoas trabalharem com mais criatividade". Porém, é preciso lembrar que a criatividade não é algo que surge magicamente da utilização de ferramentas de IA. Ela é uma competência que precisa ser desenvolvida de maneira constante e consistente. A prática faz mestres, como toda área nova, como o surgimento da máquina de escrever, e os corretores de texto, é necessário treino. Nessa nova era de trabalho, é fundamental que os profissionais desenvolvam competências como pensamento crítico, habilidades de resolução de problemas, empatia e comunicação efetiva.

Essas habilidades são essenciais para lidar com as incertezas e os desafios complexos que surgem no ambiente de trabalho e devem atuar em conjunto com as ferramentas de IA. Portanto, o uso de ferramentas de inteligência artificial pode trazer inúmeras vantagens para o ambiente de trabalho, desde que os profissionais estejam dispostos a desenvolver competências que permitam trabalhar em conjunto com essas ferramentas. Combinar a eficiência da IA com a criatividade e o pensamento crítico humano pode trazer soluções inovadoras e criativas para os desafios do mundo contemporâneo.

Entretanto, com a utilização da IA também surgem desafios e questionamentos sobre as competências necessárias nessa nova era. Quais são as habilidades que todos devem desenvolver para trabalhar de forma mais criativa com as ferramentas de IA? Como podemos garantir que a IA não substitua completamente a criatividade humana? Estas são questões importantes que precisam ser discutidas para que a IA seja uma ferramenta eficiente e ética para todos. Dentro deste processo a regulação que virá deve respeitar a dignidade da pessoa humana como pilar essencial do século XXI.

O conceito de arte também sofre mutação. A obra "Théâtre D'opéra Spatial" de Jason M. Allen ganhou destaque na categoria digital da Colorado State Fair, não apenas pela sua beleza visual, mas também pela forma como foi criada. Allen utilizou a inteligência artificial (IA) para produzir a pintura, e isso gerou um debate sobre o papel da IA na arte e na criatividade. O artista deixou claro que seu trabalho foi criado com o auxílio da IA, mais especificamente com a Midjourney. Ele não tentou enganar ninguém, pelo contrário, quis enfatizar a colaboração entre a inteligência artificial e a criatividade humana.

Essa colaboração é uma tendência crescente na produção artística e representa um novo caminho para a criatividade. Com o avanço da IA, novos modelos de grande escala foram lançados em 2022 e início de 2023, como o ChatGPT4, Stable Diffusion, Whisper e DALL-E 2. Esses modelos são capazes de realizar tarefas cada vez mais amplas, quebrando premissas antigas ou inovações recentes. Isso tem gerado oportunidades incríveis para a criação de novas formas de arte, que vão além do que seria possível apenas com a criatividade humana. No entanto, a utilização da IA na arte também apresenta desafios éticos. É importante lembrar que, por trás dos algoritmos, há decisões humanas que podem influenciar o resultado final. Há riscos de divulgação de informações falsas, produtos tendenciosos e serviços enganosos. Por isso, é fundamental que os desenvolvedores de IA trabalhem com ética e responsabilidade, garantindo que essas tecnologias sejam usadas para o bem da sociedade.

É preciso reavaliar o que entendemos por arte, por criatividade e por trabalho coletivo e inteligente. A colaboração entre a IA e a criatividade humana representa uma nova era na produção artística, que pode trazer inovações incríveis e surpreendentes. No entanto, é preciso ter cuidado para garantir que a utilização dessas tecnologias seja feita de maneira ética e responsável, e que os benefícios sejam compartilhados por todos. A inteligência artificial (IA) é um tema complexo e controverso. Embora o futuro distópico imaginado por filmes seja improvável, o desenvolvimento e os usos atuais da tecnologia podem ser problemáticos.

Recentemente, um "paper" assinado por "opinion makers' e "decision makers", incluindo Elon Musk, pediu uma pausa no desenvolvimento de IA, citando a falta de controle sobre a tecnologia. Além disso, a linguagem é uma área na qual a IA caminha para dominar o que antes era exclusivamente humano, o que preocupa alguns especialistas. Porém, há pesquisadores que afirmam que a ameaça de uma tomada de controle acidental pela IA é superestimada. Segundo Yann LeCun, pioneiro da IA, máquinas superinteligentes serão sempre desenvolvidas para servir os humanos. O debate sobre a IA continua, e a comunidade científica está se esforçando para encontrar soluções para lidar com as preocupações que a tecnologia pode gerar.

Pela voz do fundador da OpenAI, Sam Altman, "tenho o desejo de construir uma inteligência artificial geral (AGI), um sistema com capacidade sobre-humana em múltiplas tarefas". Para o escritor Geoffrey Hinton, autor de um artigo fundamental para a atual revolução da IA, disse que antes do ChatGPT, acreditava que uma AGI seria possível entre 20 e 50 anos, mas agora acredita que pode acontecer em menos de 20 anos. Questionado se a IA poderia dizimar a humanidade, Hinton respondeu: "Não é inconcebível. Isso é tudo o que vou dizer".

Em um segundo momento é preciso avaliar a capacidade da IA de dominar a linguagem humana. Essa temática também desperta preocupação e reflexões em relação à tecnologia. Como disse Luis Lamb, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), "o temor surgiu porque a tecnologia caminha para dominar aquilo que a gente achava que pertencia ao ser humano: a linguagem". No entanto, é importante destacar que a preocupação em relação à IA não se limita apenas à possibilidade de uma tomada de controle acidental. Há outras questões éticas e sociais que devem ser consideradas, como a privacidade dos dados, o viés algorítmico e o impacto no mercado de trabalho, por exemplo. Além disso, há uma preocupação crescente em relação ao uso da IA em sistemas de armas autônomas, que poderiam causar danos irreparáveis em conflitos armados. Portanto, é necessário que haja um debate amplo e consciente sobre o desenvolvimento e o uso da IA, de modo a garantir que essa tecnologia seja desenvolvida de maneira ética e responsável, em benefício da humanidade.

Cabe lembrar que a inteligência artificial não é capaz de substituir completamente a criatividade humana. É um complemento que bem utilizado, aguça a criatividade. Embora possa ser uma ferramenta poderosa para automatizar tarefas rotineiras e gerar ideias, ainda é necessário que haja a presença do elemento humano para tomar decisões pautadas no sentimento, na intuição, nas sensibilidades criativas e inovadoras. Portanto, é fundamental que as pessoas desenvolvam habilidades e competências que permitam trabalhar em conjunto com as ferramentas de IA.

Algumas habilidades importantes para trabalhar de forma mais criativa com a IA incluem:

Aprimoramento espiritual:

Desenvolver a consciência e a responsabilidade sobre o impacto de nossas ações no mundo exige um aprimoramento de nossa espiritualidade e ética. Quando a espiritualidade é vista em sua plenitude, ela transcende um conceito simplista e se conecta com a força ética que impulsiona o espírito humano em direção à construção de um mundo melhor. É interessante observar que os gregos eram espiritualistas, mesmo sem se referirem diretamente a Deus ou a uma religião específica. Ao estudarmos filosofia e ética, percebemos que existem dimensões espirituais em nós, que não estão necessariamente ligadas a uma divindade transcendente, mas sim a um propósito maior.

Pensamento crítico: a capacidade de analisar informações e tomar decisões baseadas em evidências.

Habilidade de resolução de problemas: a capacidade de identificar e resolver problemas complexos de maneira eficiente.

Empatia: a habilidade de entender as necessidades e desejos dos outros.

Comunicação efetiva: a habilidade de transmitir informações de maneira clara e precisa.

Adaptabilidade: a habilidade de se adaptar a novas situações e mudanças no ambiente de trabalho.

Essas habilidades são essenciais para garantir que a IA seja uma ferramenta eficiente e ética para todos, e que os profissionais possam trabalhar em conjunto com a tecnologia para gerar soluções criativas e inovadoras.

A inteligência artificial tem sido amplamente estudada em diversas áreas, e muitas pesquisas comprovam sua utilidade e eficácia em diferentes campos.

Na área da saúde, por exemplo, um estudo publicado na revista científica Nature mostrou que um sistema de IA foi capaz de diagnosticar câncer de mama com maior precisão do que radiologistas humanos. O sistema aprendeu a identificar padrões de câncer em mamografias e, quando testado em um grupo de mulheres, conseguiu detectar 94,5% dos casos, enquanto os radiologistas detectaram cerca de 90%.

Outra pesquisa mostrou como a IA pode ser útil no combate à pandemia de Covid-19. Um estudo publicado no Journal of Medical Internet Research mostrou que algoritmos de aprendizado de máquina podem ser usados para prever a probabilidade de um indivíduo contrair Covid-19 com base em suas informações demográficas e histórico médico. Isso pode ajudar a identificar pacientes que têm maior risco de desenvolver sintomas graves e, assim, melhorar o planejamento de recursos de saúde.

Na área de finanças, a IA também tem mostrado sua utilidade. Um estudo da consultoria Accenture mostrou que a implementação de tecnologias de IA nos bancos pode levar a uma redução de até 30% nos custos operacionais. Isso é possível graças à automação de tarefas como atendimento ao cliente, detecção de fraudes e análise de risco de crédito, entre outras.

Essas são apenas algumas das muitas pesquisas que comprovam a utilidade da inteligência artificial em diversos campos. A IA tem o potencial de transformar a maneira como trabalhamos e vivemos, trazendo inúmeras possibilidades de melhoria e avanço em diferentes setores da sociedade.

Em resumo, a inteligência artificial pode trazer diversos benefícios para o ambiente de trabalho, desde que os profissionais estejam abertos a desenvolver as habilidades e competências necessárias para trabalhar em conjunto com essas ferramentas. Ao combinar a eficiência da IA com a criatividade e o pensamento crítico humano, surgem soluções inovadoras e criativas para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. É essencial que as empresas estejam atentas ao potencial da IA e incentivem seus colaboradores a se capacitarem, a fim de maximizar o impacto positivo que essas tecnologias podem trazer para a sociedade e o mercado de trabalho.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunistas

Coriolano Aurélio de Almeida Camargo Santos é advogado e Presidente da Digital Law Academy. Ph.D., ocupa o cargo de Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo (OAB/SP), com mandatos entre 2013-2018 e 2022-2024. É membro da Comissão Nacional de Inteligência Artificial do Conselho Federal da OAB. Foi convidado pela Mesa do Congresso Nacional para criar e coordenar a comissão de Juristas que promoveu a audiência pública sobre a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, realizada em 24 de maio de 2019. Possui destacada carreira acadêmica, tendo atuado como professor convidado da Università Sapienza (Roma), IPBEJA (Portugal), Granada, Navarra e Universidade Complutense de Madrid (Espanha). Foi convidado pelo Supremo Tribunal Federal em duas ocasiões para discutir temas ligados ao Direito e à Tecnologia. Também atua como professor e coordenador do programa de Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) da Escola Superior de Advocacia Nacional do Conselho Federal é o órgão máximo na estrutura da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB). Foi fundador e presidente da Comissão de Direito Digital e Compliance da OAB/SP (2005-2018). Atuou como Juiz do Tribunal de Impostos e Taxas de São Paulo (2005-2021) e fundou a Comissão do Contencioso Administrativo Tributário da OAB/SP em 2014. Na área de arbitragem, é membro da Câmara Empresarial de Arbitragem da FECOMERCIO, OAB/SP e da Câmara Arbitral Internacional de Paris. Foi membro do Conselho Jurídico da FIESP (2011-2020) e diretor do Departamento Jurídico da mesma entidade (2015-2022). Atualmente desempenha o papel de Diretor Jurídico do DEJUR do CIESP. Foi coordenador do Grupo de Estudos de Direito Digital da FIESP (2015/2020). Foi convidado e atuou como pesquisador junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2010, para tratar da segurança física e digital de processos findos. Além disso, ocupou o cargo de Diretor Titular do Centro do Comércio da FECOMERCIO (2011-2017) e foi conselheiro do Conselho de Tecnologia da Informação e Comunicação da FECOMERCIO (2006-2010). Desde 2007, é membro do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP. Atua como professor de pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie desde 2007, nos cursos de Direito e Tecnologia, tendo lecionado no curso de Direito Digital da Fundação Getúlio Vargas, IMPACTA Tecnologia e no MBA em Direito Eletrônico da EPD. Ainda coordenou e fundou o Programa de Pós-Graduação em Direito Digital e Compliance do Ibmec/Damásio. É Mestre em Direito na Sociedade da Informação pela FMU (2007) e Doutor em Direito pela FADISP (2014). Lecionou na Escola de Magistrados da Justiça Federal da 3ª Região, Academia Nacional de Polícia Federal, Governo do Estado de São Paulo e Congresso Nacional, em eventos em parceria com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, INTERPOL e Conselho da Europa. Como parte de sua atuação internacional, é membro da International High Technology Crime Investigation Association (HTCIA) e integrou o Conselho Científico de Conferências de âmbito mundial (ICCyber), com o apoio e suporte da Diretoria Técnico-Científica do Departamento de Polícia Federal, Federal Bureau of Investigation (FBI/USA), Australian Federal Police (AFP) e Guarda Civil da Espanha. Além disso, foi professor convidado em instituições e empresas de grande porte, como Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), Banco Santander e Microsoft, bem como palestrou em eventos como Fenalaw/FGV.GRC-Meeting, entre outros. Foi professor colaborador da AMCHAM e SUCESU. Em sua atuação junto ao Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), apresentou uma coletânea de pareceres colaborativos à ação governamental, alcançando resultados significativos com a publicação de Convênios e Atos COTEPE voltados para a segurança e integração nacional do sistema tributário e tecnológico. Também é autor do primeiro Internet-Book da OAB/SP, que aborda temas de tributação, direito eletrônico e sociedade da informação, e é colunista em Direito Digital, Inovação e Proteção de Dados do Portal Migalhas, entre outros. Em sua atuação prática, destaca-se nas áreas do Direito Digital, Inovação, Proteção de Dados, Tributário e Empresarial, com experiência jurídica desde 1988.

Leila Chevtchuk, eleita por aclamação pelos ministros do TST integrou o Conselho Consultivo da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho – ENAMAT. Em 2019 realizou visita técnico científica a INTERPOL em Lyon na França e EUROPOL em 2020 em Haia na Holanda. Desembargadora, desde 2010, foi Diretora da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região. Pela USP é especialista em transtornos mentais relacionados ao trabalho e em psicologia da saúde ocupacional. Formada em Direito pela USP. Pós-graduada pela Universidade de Lisboa, na área de Direito do Trabalho. Mestre em Relações do Trabalho pela PUC e doutorado na Universidade Autôno de Lisboa.