Não há risco de que seja registrada substantiva alteração de forma e conteúdo na atual política econômica.
Os agentes econômicos, notadamente os detentores reais do poder, descobriram que o presidente da República Michel Temer se tornou disfuncional para manter em ordem a economia. De fato, as variáveis tipicamente conjunturais necessitam de controle, mesmo que as reformas estruturais possam ser realizadas com mais vagar. Temer é hoje o principal empecilho à recuperação econômica. Por razões diferentes, mas com os mesmos efeitos, Temer se tornou igual à ex-presidente Dilma Rousseff. Essa última abusou do analfabetismo econômico e político. Temer afogou-se na sua própria piscina de malfeitos e os companheiros de jornadas nas noites brasilienses. O Brasil ficou à deriva de ambos e agora quer se livrar do que ocupa o Jaburu.
A classe política, dessa forma, começa a velozmente mudar o cenário, carreando votos congressuais para um novo rumo, possivelmente com Rodrigo Maia no timão. Se isso dará certo, a história contará. Observando o papel exercido pelos protagonistas políticos vê-se que, com Temer, porto seguro da tecnoempresariocracia se tornou vulnerável. Tasso Jeressaiti foi o eficiente porta-voz para expressar a voz do poder econômico. É por isso que, mesmo tendo falado baixinho ao pé do ouvido de Rodrigo Maia, o cearense se tornou um barítono na mídia.
O certo desse processo é que quase tudo em matéria de política econômica será mantido. Não há nenhum risco de que seja registrada alguma substantiva alteração em termos de forma e conteúdo na atual política econômica. Henrique Meirelles deve permanecer exercendo a sua função de esfinge decifrada na Fazenda. Assim, a tecnoempresariocracia que combina um arrocho fiscal sem precedentes, um aperto monetário destoante com o grau de recessão e a recuperação lenta e gradual da atividade econômica devem continuar. A posição cambial sólida do país e a estabilidade dos mercados financeiro e de capital é o indicador antecedente de que o risco político a médio prazo é alto, mas no curto prazo estamos caminhando para relativa estabilidade. Na margem, a economia cresce e já há sinais inequívocos de que a recessão passou de seu pior ponto, mesmo que não saibamos qual a tração que a atividade terá daqui até a posse do próximo presidente da República eleito diretamente pelo digníssimo povo.
A queda de Temer, já anunciada, mas ainda imprevista, representará o encerramento do segundo ato da nova era, iniciada com a redemocratização até o governo do PT - o primeiro ato foi a eleição de Lula da Silva. Dilma foi um interregno praticamente irrelevante nesse processo. Temer representa a velhice da política e será esquecido na história. O que vem por aí será, provavelmente, muito mais novo. O que não sabemos é se será moderno e com isso trará o desenvolvimento mais holístico a esse grande país exausto de se apequenar.
Há na sociedade brasileira a enorme esperança de uma sociedade mais igualitária, menos afeita a proteger apenas os poderosos. Lula trouxe à tona essa agenda, mesmo que a sua gestão nos ensinasse que os seus feitos foram bem menores que as suas promessas por conta da corrupção e doses significativas de populismo. Todavia, a sociedade brasileira começa a incorporar a ideia de que o "Grande Estado" não funciona para sanear a desigualdade social. Em verdade, este acentua as diferenças vez que dentro dele são acomodados os interesses dos poderosos. A corrupção generalizada nada mais é do que a expressão objetiva do caráter de Macunaíma do Estado brasileiro.
Também a sociedade começa a perceber que o estamento e as estruturas clientelistas e patrimonialistas dos burocratas brasileiros são fatores de desigualdades maiores e, até mesmo, crescentes. Não pode um futuro aposentado do setor privado valer muito menos que aquele que é oriundo do setor público: isso simplesmente não cabe na finança pública.
As reformas do setor laboral e da previdência social não são apenas correções econômicas, em seu sentido fiscal. São também a expressão de uma sociedade mais igual, mais inclusiva. São reformas como essas que necessitam ser alicerçadas em desenvolvimento econômico que, por sua vez, requerem reformas de caráter isonômico como a da Previdência Social.
Creio que Temer, ao se arrogar como "garantia" de estabilidade, não percebeu que o andor das reformas que diz carregar já não lhe pertencia. De fato, a sociedade percebeu com seus próprios olhos que não é possível permanecermos enraizados em "direitos" de alguns que retiram a perspectiva de sucesso de imensa maioria.
É por isso que a queda de Michel Temer, tornando-o réu do STF, não impede que tanto o reformismo persista quanto à estabilidade conjuntural, mesmo que por meio da atual política econômica tecnoempresariocrática. Que venha Maia ou outro qualquer. O risco do Brasil é o da persistente desigualdade, da ausência de competitividade, da alienação perante o mundo moderno, da falta de educação e saúde, etc.
No curto prazo à economia se descola da política. No médio prazo, nunca precisamos tanto de políticos, cuja maior virtude deve ser a de amar o Brasil.