As últimas duas semanas, encerradas com o comício do ex-presidente Lula, neste último fim de semana, em Monteiro (PB), configuraram bem o cenário deplorável no qual a Nação está atolada. Vejamos.
A tal 'lista de Janot' é uma espécie de corolário do que os políticos de todas as vertentes ideológicas andaram fazendo nos últimos longos anos - deixemos as décadas para lá. Do 'caixa 2' das campanhas eleitorais até a corrupção aberta, a lista vai mostrar o que de fato é a política nacional: o amontoado de interesses políticos de natureza exclusivamente pessoal. E que se dane a República a qual se tornou mero instrumento do proselitismo para a obtenção de favores aos já favoritos.
A economia está capenga e continuará a sua trajetória de recuperação dentro do script do 'voo de galinha'. O PIB deve crescer um pouco em comparação à base anterior, pois a recessão é gigantesca e destroçou o emprego, o investimento, o crédito e os fundamentos fiscais e monetários. A taxa de juros permanece como o símbolo de um país-gigante que se acomoda na mediocridade e na desesperança. No câmbio, o governo tropeça, para remarcar o campo da repetição do erro eterno. Tudo podia ser diferente, mas foi e é a política o pilar carcomido do que se vê pela frente. Ao ir a Brasília se aprende que não há nada de novo no front. O Congresso está enervado com o que sairá do MPF e do STF. Os políticos estão esperando Janot. Sofridamente e sofregamente.
Na sexta-feira tivemos a espetacularização calcada sobre o largo vazio nacional: a Polícia Federal e o MP colocaram 1.100 agentes para estrelar a peça na qual o calvário era do setor agroindustrial, o único a sustentar as esperanças de desempenho microeconômico consistente. A espetacularização de crimes, como se fossem generalizados, deixou marcas seríssimas para o setor. Do pobre ao mais rico da pátria, muitos passaram a temer que um pedaço de papelão estivesse por entre as fibras de uma carne assada ou cozida. O absurdo chegou ao mundo e deixou feliz a concorrência internacional, afinal é no setor primário que o Brasil continua imbatível. O governo correu para salvar a cena (esteve bem!), mas ficará com a herança de explicar por aí que a coisa não é exatamente igual ao que disseram os policiais com seus jalecos e metralhadoras, por entre fábricas e bois. O clone político momentâneo vai comportando tudo. Quem controlará esse processo?
Lula da Silva, o ex-presidente da República, dá mostras inequívocas que, gostem dele ou não, é o único político que "vai ao povo". Faz comício na avenida Paulista e mergulha nas águas transpostas do Velho Chico para pregar a candidatura e denunciar aquilo que acredita ser a conspirata contra os pobres que sua administração tentou resgatar da pobreza. Lula tem 1/3 do eleitorado, por ora. A probabilidade de ser barrado por uma segunda condenação no Judiciário é altíssima, mas quer ter as ferramentas para se defender a partir das ruas e campos. É o velho jogo do tudo ou nada do presidente cordial que montou a máquina da corrupção para a denominada esquerda. Mas, que Lula fala com as multidões, não resta dúvida. A turma do capital se assusta e a do trabalho, bem, esses estão fragilizados pelo desemprego e desesperança. Como disse Michel de Montaigne, "os homens tendem a acreditar naquilo que menos compreendem".
Do lado de lá, nas hostes do governo nas quais tudo cabe, a turma está agitada. Aécio Neves está sem tintura política e deve ser fustigado por denúncias. A "esfinge do Bandeirantes" Geraldo Alckmin está à espera de Janot, enquanto tem seus próprios problemas com as denúncias de corrupção que podem sair da boca de ex-tesoureiros de campanha. Assim como Lucky, a personagem de Esperando Godot, peça de Samuel Beckett, os homens do dinheiro de campanha podem estar carregando malas e malas de denúncias para o MP bandeirante. Sabe o político de Pindamonhangaba que as cousas são mais complicadas que a inquietação de Vladimir, o personagem de Beckett, ao final da peça de Beckett: "Então, devemos partir?", diz para Estragon (um personagem, não é trocadilho!).
Até FHC, o oráculo do conservadorismo nativo, saiu de seu papel de pitonisa e partiu para a tribuna para informar a Nação que "caixa 2 não é crime". Sim, sim, não fiquemos decepcionados com a nossa própria criação e imaginação sobre quem é o ex-presidente. FHC falou e disse. Gilmar Mendes, cada vez mais supremo, entendeu o recado e de toga partiu para a campanha "Caixa 2, salvai-nos! Sabemos o que fizemos!". Não subestimemos, pode dar certo.
Se alguém pensa que pode escandalizar a gente toda do Brasil, saibam que está fácil escambar um prato de lentilhas bem quentinho pelo esquecimento do que fizeram os políticos. O país clama por "estabilidade".
Nesse contexto é que cresce a articulação, por dentro das fileiras da política e patrocinado por gente do capital e segmentos da denominada classe média, da candidatura de João Doria, o alcaide paulistano, Ele foi batizado pela primeira vez nas urnas há menos de seis meses e, assim, permanece purificado do pecado original do "caixa 2" e da corrupção que infesta o país. A magnis maxima (De grandes causas, grandes efeitos).
Já se pediu até um slogan para o midiático prefeito que, vejam bem!, resiste à ideia para jurar gentílica fidelidade pindamonhangabense ao governador paulista, seu pai e, agora, avô na política.
Para político desesperado, meio-político que não está na lista de Janot basta!
Logo, logo, essa especulação ganhará tração. Consta que até na reunião do ministro da Fazenda do G-20 em Baden-Baden (Alemanha), semana passada, Henrique Meirelles pronunciou o nome do alcaide por algumas vezes. Em várias línguas, quiçá! Os colegas entenderam.
O principal programa da administração de São Paulo, até agora, sob João Doria é o Cidade Linda que pretende tornar ruas e praças, digamos, mais lindas. Até os mendigos podem tomar rumo e participar como figurantes de alguma peça de William Shakespeare e, assim, tornar tudo ainda mais lindo.
O cenário político traçado por um banqueiro bem informado a cujo pensamento tivemos acesso – é difícil banqueiro falar – o cenário seria assim: Lula da Silva preso ou inviável. Marina, falando dos Povos da Floresta, mas fustigando e dividindo o eleitorado de Ciro Gomes, o desbocado; João Doria rapidamente ocupando o espaço vazio da Nação. Esqueceu de falar de Jair Bolsonaro, aquele genérico de Donald Trump.
O mercado financeiro e de capital está precisando de horizontes. A Nação está rendida. Os políticos, esperando Janot. Doria vem aí, lá-lá-lá-lá....
Não esqueçam, por favor: ele não é Winston Churchill que salvou o Reino Unido na II Guerra Mundial (1939-1945). Doria pode salvar bem menos pessoas. Algo do tamanho do plenário do Congresso Nacional. Entenderam?