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Otimismo agora e a espera de 2019

Otimismo agora e a espera de 2019.

21/2/2017

A partir do último trimestre do ano passado já havia evidência empírica de que a retomada da atividade econômica se iniciava. Note-se que, observadas as experiências passadas, esse processo é quase sempre marcado por grandes variações de desempenho entre os diversos setores e subsetores da economia, bem como no que diz respeito à confiança sobre o futuro. Somente a persistência desse processo no curto prazo detona aumentos maiores da demanda no médio prazo. Assim, trata-se de um jogo cujas variáveis tem forte influência das expectativas: o "capital covarde" apenas avança quando mais seguro sobe o opaco futuro. Essa recuperação se dá por meio da ocupação da enorme ociosidade reinante na capacidade produtiva do país. Não se espera que a demanda possa afetar negativamente o quadro de refluxo visível na inflação esperada (e passada).

A benignidade do cenário apenas não é maior porque o Banco Central não reduziu mais rapidamente a taxa de juros básica, bem como o portfólio de empréstimos do sistema financeiro se encontra estagnado e sofrendo ainda os efeitos da inadimplência que por sua vez é fruto do desemprego e da forte desaceleração da economia brasileira no período pré e pós-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Discussões à parte, as despesas com o endividamento do setor público são incompatíveis com a sustentação do risco-país em baixos patamares, bem como com a possibilidade de crescimento econômico. As reformas de natureza fiscal, trabalhista, previdenciária, etc. são muito necessárias para a redução estrutural da taxa básica de juros, bem como do juro ativo (aquele que é referência para empréstimos e financiamentos). Todavia, mesmo assim, a sociedade brasileira merece saber se a fixação da taxa de juros não proporciona efeitos negativos maiores que os necessários, mesmo quando há a perspectiva de inflação mais elevada à frente. Nesse sentido, a investigação acadêmica de André Lara Rezende, alguém do establishment político e econômico que apoia o atual governo, é muito interessante e relevante. Rezende especula abertamente que a taxa de juros básica no Brasil é mais elevada que deveria. Veremos.

Esse cenário benigno confirma que a visão tecnoempresariocrática que o presidente Temer estabeleceu para governar produz resultados positivos face à reorganização das variáveis mais básicas da política econômica. Sob Dilma Rousseff o país foi levado à situação crítica em função de erros primários de gestão financeira e de gastos públicos. Michel Temer corrigiu esse rumo, cujos custos foram muito mais elevados que deveriam ser devido à crise política provocada pelo processo de impeachment, assim como pela completa desmoralização da classe política em função das denúncias de corrupção engendradas a partir da já célebre operação Lava Jato.

O mais interessante, complexo e desafiador do atual momento da política nacional é que as conquistas muito importantes obtidas pelo atual governo serão rapidamente diluídas. Em menos de um ano, deveremos retornar a um quadro mais crítico e instável. Todavia, não deve ser subestimada a possibilidade daquilo que no mercado se denomina de overshooting. Trata-se de um período, normalmente curto, mas eventualmente nem tão curto, onde reina o excesso de otimismo a partir do qual os agentes econômicos reagem mais que desproporcionalmente à melhora dos indicadores econômicos. É a "fase paraíso" do mercado. A taxa de câmbio atual, a qual gravita ao redor de R$ 3,00/por USD 1,00 é a evidência mais notável da exacerbação do otimismo reinante no mundo financeiro. Vale avisar aos navegantes dessas ondas do mercado que não se deve subestimar a capacidade de o tal do mercado produzir graus elevados de otimismo, mesmo quando os fundamentos demonstram que deveríamos caminhar mais devagar com o andor das boas notícias econômicas vez que o santo é de barro!

O cenário positivo no mercado financeiro e de capital no mundo, especialmente nos EUA, a recuperação vigorosa dos preços das commodities (minérios, petróleo, grãos, etc.), a ampla oferta estrutural de crédito externo, o bom desempenho da economia chinesa, estão entre as mais importantes variáveis a justificar os largos sorrisos dos operadores nas mesas de operações, sobretudo nos mercados ditos emergentes.

Aos investidores é melhor alertar que, por ora, os fundamentos mais profundos do mercado, da política e da economia não importam muito. Não vale pregar em torno de temas, tais como, as loucuras de Trump, a falta de competitividade da economia brasileira, os efeitos da operação Lava Jato e assim por diante. Aparecerá sempre alguma pitonisa do mercado que de dentro do oráculo gritará que tudo está precificado!

Contudo, aqui nesse espaço, gostaria de relembrar que fundamentos não se alteram com rapidez equivalente com as mudanças das expectativas do mercado. No caso do Brasil, a transformação e solidificação da política e da economia dependerão de largo esforço da sociedade brasileira, sobretudo de suas elites para sair do jogo de stop and go em termos de crescimento econômico. Somente reformas de base, estruturais e permanentes podem transformar "crescimento" em "desenvolvimento". Na política e na economia tudo ainda é incipiente. Os nossos parlamentares hesitam em cuidar do país, pois, por ora, estão tentando escapar das denúncias de corrupção e mal feitos. Tudo parece emergencial e as instituições estão abaladas por todos os lados. Como sempre afirmamos, há uma crônica crise institucional. O Estado brasileiro não está aperfeiçoado para não atrapalhar e impulsionar o desenvolvimento do país.

A maior probabilidade é que o cenário positivo persista até o último trimestre desse ano. Naquele tempo, os fundamentos irão brotar novamente do chão. A corrida presidencial de 2018 e os efeitos já verificados da Lava Jato devem ser os aspectos mais importantes a serem analisados. Dependendo de como for, somente em 2019 teremos mais claro se o Brasil tem chance de superar o sobe-e-desce de sua economia e as mazelas sociais de seu povo. Enquanto isso, vamos para o carnaval. Nas ruas e no mercado reinará a folia.

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Colunista

Francisco Petros Advogado, especializado em direito societário, compliance e governança corporativa. Também é economista e MBA. No mercado de capitais brasileiro dirigiu instituições financeiras e de administração de recursos. Foi vice-presidente e presidente da seção paulista da ABAMEC – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais e Presidente do Comitê de Supervisão dos Analistas de Investimento. É membro do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo e do Corpo de Árbitros da B3, a Bolsa Brasileira, Membro Consultor para a Comissão Especial de Mercado de Capitais da OAB – Nacional. Atua como conselheiro de administração de empresas de capital aberto e fechado.