Nas semanas vindouras teremos novamente a aproximação entre toda a frente desconjuntada pró impeachment.
Estamos a ingressar em novo período de turbulências políticas neste final do verão de 2016. Não se trata de nada propriamente ligado aos interesses do país, de seu povo, de sua economia. Trata-se, isso sim, da dinâmica autônoma que a "pequena política" tomou desde que a presidente Dilma Rousseff foi eleita com um discurso completamente distante da realidade frente aos desafios do país. A imensa dificuldade com que a presidente lida desde o final de 2014 é em assumir o protagonismo e a liderança do país. Até agora foi ao reboque dos fatos e parece tranquila em seguir assim.
A "pequena política" está com tração dobrada. Os seus principais protagonistas flertam entre si para construir alianças que possibilitem tirar do poder a presidente eleita pelo voto popular. Este jogo é inquietante porquanto envolve a classe política brasileira esfacelada do ponto de vista ideológico e ético. A sociedade (des)organizada observa as jogadas políticas com grande desconfiança vez que nenhum núcleo de poder se tornou majoritário ao mesmo tempo em que lida com suas contradições éticas internas e externas.
De todo o modo a nova descoberta policial dos links entre o guru eleitoral João Santana e sua esposa-contadora, a Odebrecht, o PT e a campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff, reacendeu o namoro das forças políticas (des)organizadas no país e, especialmente, nas duas casas legislativas do Congresso Nacional.
Na semana passada, assistimos ao "namoro" explícito do vice-presidente da República Michel Temer com as forças que compõem o esfacelado PMDB. Lideranças oligárquicas e, eventualmente, sujeitas às investigações judiciais e policiais (Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Romero Jucá e outros) se juntaram em torno de um tal Plano Temer. A primeira parte deste plano já tinha sido publicada no início do ano e tratava da política econômica pretensamente liberalizante ao estilo PSDB. A segunda parte, divulgada no programa de rádio e TV peemedebista, trata da repercussão imaginada pelo partido no que tange à política social, caso seja adotado o receituário daquele plano. Aqui foi reacendida a chama conspiratória do vice-presidente da República Michel Temer, aquele que foi representado pela Revista Piauí (edição de janeiro de 2016) a beijar ardentemente os lábios do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Fosse feita a caricatura agora, o vice-presidente estaria em plena sessão de ósculos coletivos a todo o PMDB desunido. A pretensão de Temer é mostrar que o PMDB é um corpanzil unido capaz de assumir o poder a partir da associação com a oposição que amealhará pedaços de um futuro governo, se houver.
Também neste final de semana assistimos a calculada saída do PT do governo. Lula et caterva implicados profundamente em duvidosas transações, dão sinais de que Dilma passou da fase essencial do jogo do Poder para a fase ocasional. O partido logrou colocar a presidente em segundo plano e trata agora de salvar o único ativo político daquele partido que já foi considerado o mais orgânico já existente na história da política nacional. Lula é conhecido como infiel aliado dos mais próximos. Já deixou companheiros (Dirceu, Palocci, Genoíno, etc.) pelo caminho sem escrúpulo algum. Agora, deixará a presidente da República frente às tempestades minuanas que sopram não apenas do sul. O problema imobiliário de Lula, composto por enquanto por um sítio e um tríplex, é mais importante que o destino da presidente e do país.
Ao largo do cenário reavivado vislumbra-se o impeachment de Dilma, do lado direito e o processo no TSE que pode impugnar a chapa eleitoral de 2014 e tirar a presidente e seu vice do poder, do lado esquerdo. O cerco se fecha rapidamente. Ao centro, Dilma e seu governo assistem à inviabilização absoluta de qualquer alternativa. Não há política econômica em vigor, mas apenas medidas pontuais que nada sanam e arrastam o país para a depressão econômica. O ministro Nelson Barbosa é figura pálida e senil de uma administração que peca por ter esquecido que o verdadeiro poder emana do povo e em seu nome será exercido. O povo, por ora, está desempregado e sem renda.
Nas semanas vindouras teremos novamente a aproximação entre toda a frente desconjuntada pró impeachment. Será um espetáculo cuidadoso, pois sempre é possível que algum personagem receba a distinta visita da Polícia Federal à sua residência ou escritório ou a ambos. Há delações novas vindo pela proa e a turbulência será intensificada. Não tenhamos ilusões de que a corrupção é obra generosa no país. Vai além dos muros de Brasília. É assunto federativo, a bem da verdade.
Neste contexto, não são poucos que fazem as contas. No tal do mercado, por exemplo, muitos já calculam que a hora é de começar a comprar Brasil (ou mais charmosamente, buy Brazil). Investidores internacionais começam a telefonar mais intensamente para seus pares no Brasil e calculam que talvez estejamos próximos a um cenário como o de Collor em 1992. Melhor entrar agora com câmbio a R$4 por dólar que esperar o desfecho da cena que se está a construir. Obviamente, há os que pregam a ideia de que há "um alçapão no fundo do buraco" e que tudo há de piorar. Todavia, podem verificar no futuro que os grandes ganhos dos profetas do apocalipse que pregam no deserto brasileiro virão dos lucros nas operações com títulos e ativos nativos. Não há inocentes nos mercados. Já no povão...
A política é um jogo de pequenas e grandes conspirações, já pregava o velho Nicolau. Nesta hora pela qual passa o país, as conspiratas não incluem o inerte povo. Afinal de contas, a sociedade assiste a tudo como se fosse apenas vítima. Milhões de pais e mães de famílias começam a viver com maior intensidade o drama do desemprego. Em breve (seis meses?) estarão desesperados.
O certo é que os tempos são perigosos, mas para quem?