Após idas e vindas nas negociações para composição do novo governo alemão, finalmente foi selado o acordo necessários entre os novos eleitos e o novo líder, Olaf Scholz, oficialmente inaugura a era pós Merkel. A ex-chanceler, que ficou no poder por 16 anos, é agora sucedida por uma coalizão de forças que possui como característica fundante a agenda da sustentabilidade e mudanças climáticas.
Na Alemanha, o Partido Verde representa a principal voz na agenda verde e, assim como em outros países europeus, a força de seus representantes tem crescido nas eleições legislativas. E após as eleições de novembro, o PV agora se tornou a terceira maior força política do pais, que é a maior economia da Europa.
Assim é que o novo chanceler teve que negociar de modo amplo a adesão dos verdes em seu governo para lhe garantir governabilidade. O resultado? Os verdes comandarão nada menos do que 4 ministérios - e acho importante destacar que um deles é o das Relações Exteriores.
O que isso significa?
Partindo do pressuposto que dentro das principais funções da diplomacia nas economias de mercado estão as transações comerciais com outros países, significa que a partir de agora a agenda das relações internacionais alemã será pautada pelo diálogo entre economia e sustentabilidade.
A maior economia europeia mais uma vez aponta para onde devem ir as relações comerciais entre países, e aqueles que pretendem participar desse novo momento das relações internacionais irão ter que se mexer e comprovar compromissos com o meio ambiente, especialmente aqueles voltados aos impactos socioambientais de suas produções. Quem não quiser participar do jogo verde alemão/europeu, irá perder mercado.
Como já escrevi nesta coluna anteriormente, a Alemanha, mesmo antes das eleições, já indicava um interesse e foco na agenda da economia verde como indicou a recente aprovação da chamada Lei da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Act), que busca melhorar a proteção dos direitos humanos e normas ambientais nas cadeias de abastecimento globais. Para isso, a nova lei deposita nas empresas alemãs importadoras e exportadoras uma série de obrigações para que esses direitos sejam respeitados por suas cadeias de abastecimento.
Assim, a nova coalizão que vira a página da Era Merkel nasce com a marca verde estampada em seu núcleo duro. E, sendo a maior economia europeia, ela puxará os demais parceiros – em especial da União Europeia – para o mesmo caminho.
Por aqui trata-se, a meu ver, de mais uma evidência concreta para as empresas brasileiras (e autoridades públicas!) inseridas na economia de mercado da importância de se mexerem e buscarem aprimorar suas práticas com enfoque nas agendas de sustentabilidade, impactos sociais e governança (environmental, social and governance - ESG).