Circus

Cui pro quo

Cui pro quo

18/3/2011

 

"Deu no Migalhas: 'Ironia - Deputado Tiririca é indicado para a Comissão de Educação e Cultura da Câmara, que será instalada nesta semana' (Migalhas 2.580 - 28/2/11). Deu no jornal O Estado de S. Paulo de sábado: '1 em cada 5 mortos em estradas (de São Paulo) é atropelado'. Segundo o respeitável jornal, portanto, em nosso Estado o atropelamento de cadáveres é fato corriqueiro. E, ao que me consta, não foi o Tiririca quem escreveu isso."

Migalhas dos leitores

28/2/11

"Como escapei do cárcere vermelho"

Revista Visão
(chamada de capa da edição de 9 de julho de 1954,

texto que o Des. Carlos Biasotti considera o ne plus ultra dos cacófatos)

Hoje não é o dia do meu adversário. Parabéns e paramales. Pois sim, quem se lembraria de uma data dessas? Verdade que recebi um presente terno: um terno mal passado, que, primeiro, pensei jogar no cesto, mas num segundo resolvi guardar no quarto onde dorme meu nono, quando não está a rezar o terço, com medo de ir para o quinto dos infernos, onde, segundo o Dante, ficam os iracundos, os insolentes e os soberbos.

Muitos me acham uma pessoa importante e tenho de admitir que isso é verdade. Não fossem os produtos estrangeiros que eu importo e comercio, eu não teria a casa que tenho. Mas eu seria ingênuo se pensasse que os amigos não sentem inveja por eu ter sobrado. Especialmente considerando que tem piscina com água esquecida. E ali nada sobra.

Reis o que eu queria dizer: a vida é longa e nem todos nós somos curtos. Livro-me como poço das revistas mundanas, paisanas e municipais, especialmente as mais caras. As coroas as acham um barato. Veja se não tenho razão: elas trazem excelentes anúncios de roupa, sapato, perfume, liquidação disto, liquidação daquilo, lançamento aqui, lançamento acolá. Você folheia a revista todo animado e, sem anunciar isso previamente, colocam alguma matéria jornalística entre um anúncio e outro. Isso é um desrespeito. Quem disse que eu compro revista para saber o que ocorre no país, no mundo ou no espaço? Na Líbia há quantos kadáferes na rua? Deus desiste? Essa não me interisso. O que eu quero é ver anúncios, reclames, comerciais, ou que nome se dê às matérias pagas que, explícita ou implicitamente, eles ali colocam. Ou você acredita na neutralidade dos críticos de gastronomia? Repare na página inteira de anúncio do primeiro classificado no imparcial certame patrocinado, coincidência, é claro!, pela mesma revista. Mania de ver má-fé em tudo, sô! Má-fé de menos, gente, má-fé de menos! A presidenta não acredita nos jornalistos, mas quem acredita? Nem no Amapá.

Isto é, se eu quiser ver notícia eu ligo a televisão, onde, aliás, o número de matérias industriais, comerciais, anúncios ou reclames é muito menor, para meu pesar, e onde, em tempo recorde, eu saberei o que vai pelo globo. E, para minha leveza, aumentarei minha cultura. Osso o que eles mostram e veijo o que eles dizem, olhinhos correndo daqui pra lá, telepromptando o tempo todo.

Não gosto de meias verdades, nem que venham aos pares. Muitas delas chegam com furos, como incertas reportagens, transmitidas desde um helicóptero, a mostrar carros anfíbios e bicicletas aquáticas, coisa boa de se ver, horrível de experimentar. Morasse eu perto do Tietê e também jogaria lá o sofá aqui da sala, que me amola, pois nele não há mola. Ou pneus e geladeiras. Pneus bastam os meus. Talvez telefone celular, com bateria e tudo, o que combateria a pirataria chinesa, muito embora todos nós gostemos de fazer um negócio da China, diga que não. Dia desses comprei um desses celulares que nem nome tem, mas lá está um monitor de televisão, além de rádio, talvez telégrafo, batedeira de bolo e outros gadgets que ainda não identifiquei, pois vem sem o necessário manual, segundo exige o CDC, que não sei como se escreve em chinês. Preço (tenho a nota fiscal para comprovar): R$ 90,00. E vem com espaço para colocar três chips. Como eu vou poder utilizar três linhas telefônicas ao mesmo tempo é algo que só vou saber quando terminar meu curso de mandarim, que, aliás, ainda nem comecei. Como sei como são feitos os malfeitos produtos chineses, as capivaras do Tietê que me aguardem.

Quando falam em despoluir o tal rio eu rio. Penso que o mais fácil seria passar ali uma dessas tais redes sociais, de que tanto falam e até candidatou-se ao Oscar, que recolheriam tantos produtos altamente recicláveis que, ao depois, seriam revendidos e redespejados no rio mais tarde, criando-se uma saudável cadeia de realimentação da economia, até porque aqui ninguém vai parar na cadeia. Quando muito passam por ela sem parar. Acho que por medida de economia.

E meu amigo lusitano que não resistiu morar em Paris? Aquela coisa de "les portugais sont très gais" encheu-lhe as medidas. "J'ai assez!", como lá dizem. "E logo a mim chamarem-me de paneleiro, pá?" reclama ele, que, por sinal, fabrica panelas. E mudou-se para cá, onde, ironicamente, tem muito orgulho de Serguei, um puto de oito primaveras. Uma graça de rebento aquele filho.

E fico por aqui, pois os trovões já anunciam o que vem por aí, meu barco está na oficina para revisão e eu sei que quando chove lá fora pinga aqui dentro. E, com tanta chuva, minha garrafa já está quase vazia.

E viva o eterno Sérgio Porto (clique aqui).

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Colunista

Adauto Suannes foi desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, membro fundador do IBCCRIM - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, da Associação Juízes para a Democracia e do Instituto Interdisciplinar de Direito de Família.