Apito Legal

Felipão não é mais aquele

Felipão não é mais aquele. A Seleção lhe faz bem, tanto quanto ele parece fazer à Seleção.

19/5/2014

Não chega a ser um Felipinho Paz & Amor, mas o Luiz Felipe Scolari que receberá na próxima segunda-feira, dia 26, seus 23 escolhidos para a campanha do hexa em quase nada lembra o técnico de gênio forte e comportamento agressivo de outras temporadas. Felipão mudou muito nos últimos tempos. Para melhor.

Com a mesma disposição que usava para combater os atacantes em seus tempos de becão no interior gaúcho, sempre utilizando mais força do que técnica, Felipão já desceu a mão em alguns adversários desde que virou treinador há três décadas, fazendo vítimas entre colegas de profissão, jogadores, repórteres e fotógrafos. E, pelo menos publicamente, jamais se arrependeu de botar para quebrar.

Talvez até tivesse razão em alguns casos. "Não há apenas um Luiz Felipe Scolari", ensina Ruy Carlos Ostermann, um dos mais brilhantes cronistas esportivos do Brasil e autor de "Felipão, a alma do penta". Bom conhecedor do conterrâneo, no entanto, ele reconhece que, dos muitos contatos do técnico com os jornalistas, "ficou o estereótipo: um homem rude, de frases comandadas por verbos auxiliares, que faz caretas para se antecipar ao sentido do que vai dizer, que vira a cabeça, fecha os olhos, solta os braços, recua o corpo e que parece não ter mais paciência".

Em 32 anos como treinador de equipes tão díspares como CSA, Juventude, Brasil de Pelotas, Al-Shabab (da Arábia Saudita), Pelotas, Grêmio, Goiás, Qadsia (do Kuwait), Coritiba, Criciúma, Al-Ahli (também da Arábia Saudita), Júbilo Iwata (do Japão), Palmeiras, Cruzeiro, Chelsea (da Inglaterra) e Bunyodkor (Uzbequistão), e das seleções do Kwait, do Brasil e de Portugal, Felipão acumulou glórias e títulos raros no currículo de qualquer colega – para citar apenas os principais, a Copa do Mundo de 2002, a Copa das Confederações de 2013, as Libertadores de 1995 e 1999, o Campeonato Brasileiro de 1996, as Copas do Brasil de 1991, 1994, 1998 e 2012. E ainda levou a seleção portuguesa à final da Eurocopa de 2004 e às semifinais da Copa do Mundo de 2006.

Nos últimos meses de 2012, no entanto, a carreira de Luiz Felipe Scolari parecia apontar para um final inglório. Em setembro, foi demitido pelo Palmeiras, já a caminho do rebaixamento para a Segundona do Brasileirão, o que se confirmaria em dezembro. Para surpresa de muitos, Felipão deu imediatamente a volta por cima e, em 28 de novembro, foi anunciado como o novo técnico da Seleção.

De lá para cá, trocou a ranzinzice por frequentes demonstrações de bom humor, adotou uma escalação mais ofensiva na Seleção, com o quarteto Oscar, Hulk, Fred e Neymar à frente dos volantes Luiz Gustavo e Paulinho, devolveu o otimismo à torcida brasileira, ganhou a Copa das Confederações e tem repetido que vai ganhar o hexa.

Numa entrevista ao GloboEsporte.com, chegou a dizer que continua quase o mesmo: "Só estou mais velho e careca. Mas nada mudou. Eu queria ser campeão em 2002. Graças a Deus, com o trabalho daquele grupo, conseguimos. E o que eu mais quero agora é ser novamente campeão". Dias depois, porém, admitiu no Globo Repórter: "Agora, a idade vai chegando e a gente vai modificando, principalmente o coração, e me tornei um pouco mais humano, me tornei um pouco mais paciente".

Felipão não é mais aquele. A Seleção lhe faz bem, tanto quanto ele parece fazer à Seleção.

#vemibra

Sensibilizado pela campanha #vemibra (confira o vídeo, que é ótimo), o sueco Zlatan Ibrahimovic está cada vez mais propenso a assistir à Copa do Mundo no Brasil.

É o que revelou ao jornalista Grant Wahl, da revista norte-americana Sports Illustrated: "Foi uma campanha legal que eles fizeram. Foi fantástico ver as pessoas envolvidas – grandes atletas como Anderson Silva, Ronaldo, Dani Alves e outros. Eu fiquei muito feliz e isso me motivou muito. Talvez eu faça uma surpresa e apareça". E reafirmou no Twiter: "Brasil! Acho que terei de mudar meus planos de férias".

Relembrando: este Apito Legal reestreou em Migalhas com o texto "Está faltando alguém". É sobre a ausência na Copa do artilheiro dos gols bonitos. Se você der um clique logo abaixo desta coluna em outras edições, vai encontrar o texto postado no dia 3 de fevereiro.

Mancada

Com toda razão, Adilson Barbosa da Silva reclama, em Migalhas dos Leitores, de o Palmeiras não ser sido citado no texto "Londres, capital do nosso futebol" entre os grandes campeões brasileiros que não cederam um jogador sequer à Seleção que vai disputar a Copa.

Mancada nossa.

Vai ter Copa

Somados todos os manifestantes que foram às ruas de São Paulo na quinta-feira, dia 18, não houve público suficiente para bater a média de 14.951 pagantes por jogo do Brasileirão em 2013. E na conta do tal Dia Internacional de Lutas contra a Copa estão incluídos os 8 mil professores e 4 mil sem-teto que, defendendo reivindicações específicas, também ocuparam as ruas da capital paulista.

Segundo levantamento do UOL, "os atos contrários à Copa foram realizados em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e João Pessoa. A maior manifestação contra a Copa foi realizada na capital paulista, com 1.200 ativistas. Nas demais capitais, os protestos se reduziram a dezenas ou centenas de manifestantes. No total, os atos contrários à Copa reuniram cerca de 2.900 pessoas".

No mesmo dia, segundo a repórter Jéssica Alves, em matéria publicada na Folha de S.Paulo, 20 mil cidadãos do Amapá fizeram fila em Macapá para ver de perto a taça da Copa do Mundo.

Fim de papo

"E os protestos deviam ter sido feitos anos atrás, quando o Brasil foi eleito sede da Copa. Ou seja, até os protestos estão atrasados! Rarará". José Simão, em sua coluna da sexta-feira, 16 de maio, na Folha de S.Paulo

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

Roberto Benevides é jornalista, foi por muitos anos colunista e o editor do caderno de esportes de O Estado de S. Paulo, trabalhou também no JB, na Folha de S.Paulo, nas revistas Veja, Exame, Quatro Rodas, Placar e Época. Nos últimos dois anos, fez a coordenação editorial de uma coleção de 15 livros sobre esportes olímpicos publicada pelo editora do Sesi.