Apito Legal

Não é mole, não

O caminho do Brasil até a final da Copa do Mundo não será fácil; a Seleção poderá encarar a Espanha, a Itália e a Alemanha.

28/4/2014

Pergunta feita a Alejandro Sabella em entrevista recente ao site da Fifa:

– Você nos disse em uma entrevista anterior, dois anos atrás, que Espanha e Alemanha eram as melhores seleções do momento, mas, antes de completar a resposta, citou também o Brasil. Hoje você voltaria a responder do mesmo modo?

Resposta do técnico que vai comandar a seleção argentina na Copa do Mundo:

– Hoje colocaria o Brasil no mesmo nível de Espanha e Alemanha. Não fiquei surpreso com o seu rendimento na Copa das Confederações. Aliás, os brasileiros nunca me surpreendem, não é à toa que são pentacampeões. A história mostra que eles sempre foram os melhores. Possuem uma mescla de capacidade física, atlética e técnica enorme. São favoritos, ainda mais sendo os anfitriões.

Se você der um clique logo abaixo desta coluna em outras edições e se dispuser a reler "O Brasil de Van Gaal e Maradona", postada em 10 de março, vai ver que Sabella não é o único argentino ilustre do mundo da bola a mostrar encantamento com a Seleção. Está lá o que, pouco antes, dissera Diego Armando Maradona:

– Sem dúvida, meu favorito é o Brasil, que já demonstrou sua força na Copa das Confederações. Quando estão devidamente concentrados, os brasileiros são imbatíveis.

Estarão sendo sinceros nuestros hermanos ou querem apenas encher retoricamente a bola da Seleção para esvaziá-la de verdade quando e se brasileiros e argentinos se confrontarem – somente na finalíssima do dia 13 de julho se as duas equipes, como se espera, liderarem seus grupos na primeira fase da Copa do Mundo?

A dúvida só vai se dissipar depois que muita bola tiver rolado nos campos do Brasil.

É claro que o Brasil é candidato ao hexa, candidatíssimo, talvez mesmo o favorito para ganhar o caneco no Maracanã, mas dura será a caminhada para a rapaziada de Felipão depois de tirar croatas, mexicanos e camaroneses da frente. Nas oitavas de final, tendo sido o primeiro do grupo A, o Brasil pegará o segundo do grupo B – Holanda, Espanha ou Chile. Todos, parada dura. Chegando às quartas, o adversário pode ser Itália, Uruguai, Inglaterra ou Colômbia. Nas semifinais, Neymar e companhia correm o risco de se encontrar com a Alemanha.

Teoricamente, é mais fácil o caminho da Argentina, que terá Bósnia-Herzegovina, Irã e Nigéria como adversários na primeira fase, provavelmente a França ou a Suíça nas oitavas e a Bélgica ou a Rússia ou Portugal nas quartas, mas poderá pegar Espanha ou Holanda ou Itália ou Uruguai ou Inglaterra nas semifinais. Mole não é, mas o caminho do Brasil até as finais se desenha mais difícil. A possibilidade de encarar, sucessivamente, a Espanha, a Itália e a Alemanha antes da final exige um grau de maturidade a jovem Seleção ainda não teve de mostrar.

É verdade que os adversários também estarão pressionados. Enfrentar o Brasil em seu território jamais será fácil. Na semana passada, o espanhol Andrés Iniesta, raro craque do Barcelona que vem jogando bem nesta temporada, abriu o coração sobre a possibilidade de encarar os brasileiros já nas oitavas de final: "Não seria uma grande notícia jogar contra o Brasil. Se isso acontecer, porém, não podemos ter medo. Nossa seleção também é grande e está capacitada a ganhar do Brasil".

Para o Brasil, nem a vitória acachapante por 3 a 0 na final da Copa das Confederações serve antecipadamente como tranquilizante para enfrentar o atual campeão do mundo logo nas oitavas. É um jogo de risco, daqueles que às vezes se decidem num único lance, e, portanto, de prognóstico sempre arriscado. "Apesar de haver tendências, no futebol o impossível não existe", como bem lembrou Óscar Washington Tabárez, na semana passada, em entrevista a Denise Mota, da Folha de S. Paulo. Conclusão do técnico uruguaio: "Em uma Copa, a fronteira entre continuar e sair é muito pequena".

E é aí que mora o perigo para a Seleção: a fronteira se estreita ainda mais numa sucessão de jogos difíceis. Ou seja: ser hexa não é mole, não.

Nem tanto

Na sexta-feira, dia 25, de passagem por Belém, a presidente Dilma Rousseff falou sobre a Copa do Mundo: "Nós fazemos a nossa parte. Os estádios estão prontos, os aeroportos estão prontos". No Blog do Planalto, corrigiu-se, jogando para o futuro o que fora tratado como coisa feita: "Quero garantir a todos que faremos a nossa parte, estádios prontos, aeroportos prontos...". Agora, é esperar para ver se os estádios estarão prontos. Os aeroportos, segundo os especialistas, não estarão.

Ostentação

O cracaço Cristiano Ronaldo vai estrear a sua Flyknit Mercurial Superfly IV, estilosa chuteira de cano alto apresentada pela Nike na semana passada, somente no dia 16 de junho, quando Portugal e Alemanha se enfrentarão em Salvador, mas você pode estrear a sua naquela pelada semanal a partir do dia 12, quando o modelo chegará às lojas especializadas. O luxo tem um precinho salgado: R$ 1.299,90.

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Colunista

Roberto Benevides é jornalista, foi por muitos anos colunista e o editor do caderno de esportes de O Estado de S. Paulo, trabalhou também no JB, na Folha de S.Paulo, nas revistas Veja, Exame, Quatro Rodas, Placar e Época. Nos últimos dois anos, fez a coordenação editorial de uma coleção de 15 livros sobre esportes olímpicos publicada pelo editora do Sesi.