Nos anos mais vitoriosos do futebol brasileiro, a seleção foi campeã do mundo sem Pelé. Melhor dizendo: quase sem contar com o Rei. Foi em 1962, o ano do bi, conquistado sob a regência de Mané Garrincha. Pelé jogou a primeira partida da Copa, fez até o seu golzinho nos 2 a 0 sobre o México, mas se contundiu no 0 a 0 com a Tchecoslováquia e, substituído por Amarildo, não voltou a atuar na competição. Neymar nem é e nem será Pelé, mas terá o Brasil alguma chance de ganhar o hexa se não puder contar com ele?
Não. Neymar é uma exceção em nossos dias. Não tem parceiros como Djalma Santos, Nilton Santos, Didi e Garrincha. É uma solitária estrela de primeiríssima grandeza na seleção. Thiago Silva, que fará 30 anos em setembro, também é uma estrela do futebol atual, muito provavelmente até teria vaga entre os bicampeões mundiais em campos do Chile, mas ainda joga no time dos mortais. Neymar, se repetir as atuações da Copa das Confederações e for campeão do mundo aos 22 anos, será precoce candidato a conviver no Olimpo com deuses da bola como Pelé, Garrincha e Maradona.
Acontece que, a pouco menos de dois meses da Copa do Mundo, o garoto está baleado, com uma inflamação no pé esquerdo, e provavelmente não mais jogará pelo Barcelona até o final da temporada europeia. Não é o caso mais grave entre contundidos ilustres que podem ficar fora da Copa ou chegar ao Brasil em condições físicas pouco propícias ao rendimento em alto nível, craques como o português Cristiano Ronaldo, o colombiano Falcao Garcia, o belga Hazard, o marfinense Yaya Thouré, o holandês Van Persie e até o alemão Schweinsteiger, que ainda tenta readquirir o ritmo de jogo no Bayern após duas cirurgias e um longo afastamento dos campos. Neymar, porém, é o que mais nos preocupa.
As previsões de médicos e preparadores físicos são relativamente boas. Daqui a quatro semanas, no máximo, o camisa 11 do Barça, dono indiscutível da 10 da seleção, estará pronto para se reencontrar com a bola e a ela continuar dando o fino trato que será indispensável requisito para que o sonho do hexa se transforme em realidade no dia 13 de julho. É o que dizem. Vamos torcer para que se concretizem as expectativas dos especialistas. Se eles estiverem certos, Neymar terá lucrado com o descanso forçado, recuperando as forças exauridas pelo excesso de jogos e compromissos nos últimos tempos.
Que não se deixe, porém, cair na tentação de aproveitar os dias de tratamento como dias de folga, o que praticamente tirou Romário da Copa de 1990. Tão atrevido quanto folgado, o mais ilustre baixinho da história do futebol brasileiro sofreu uma lesão atuando pelo PSV Eindhoven a alguns meses da Copa e, em pleno tratamento, arrancou por conta própria a bota de gesso que imobilizava o tornozelo esquerdo e foi curtir uma noitada em Milão. A recuperação foi para o beleléu e o Brasil, com Muller no lugar de Romário, caiu fora da Copa nas oitavas de final.
Neymar, ainda bem, é muito mais responsável do que foi em seus tempos de gênio da área o combativo deputado de nossos dias. Sorte nossa. Afinal, ele faz mais falta à seleção de hoje do que fazia o Rei Pelé entre o final dos anos 50 e o começo dos anos 70 do século passado. Trate de se cuidar, portanto.
A emoção verdadeira
Uma história define bem quem foi Luciano do Valle. Nivaldo Prieto conta que eles foram gravar uma chamada da Band sobre a cobertura da Copa e alguém pediu a Luciano que narrasse um gol imaginário. Resposta do narrador cuja morte, no sábado, foi chorada por inúmeras estrelas do esporte brasileiro: "Eu não faço isso. Não consigo fingir que estou narrando um gol. Eu sei narrar o jogo. Se você botar a imagem do gol para narrar, eu narro. A emoção não vem do nada. Você não inventa a emoção de narrar um gol. A emoção vem de dentro".
Invasão ianque
Eles estão demorando muito para aprender a jogar, mas não se pode dizer que os norte-americanos não gostem de futebol. Nada menos do que 154.412 ingressos da Copa do Mundo de 2014 foram vendidos nos Estados Unidos. Como já tinha acontecido na Alemanha, em 2006, e na África do Sul, em 2010, será norte-americano o segundo maior contingente de torcedores no Brasil, atrás apenas dos anfitriões, que adquiriram 1.041.418 ingressos.
É dos Estados Unidos também o recorde de público nos estádios: 3.587.538 torcedores viram os 52 jogos da Copa do Mundo de 1994, média de 68.991 pagantes por jogo. Em segundo lugar, está a Alemanha, que, em 2006, recebeu 3.359.439 torcedores em 64 jogos, média de 52.491 por jogo.