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Ensaio de gala para a Copa

Nos próximos dias, grandes nomes do futebol estarão disputando as quartas de final da Liga dos Campeões da Europa.

24/3/2014

Se a sorte não escapar a um ou outro nos próximos dias, estarão todos em gramados do Brasil em junho e julho: Messi, Cristiano Ronaldo, os nossos Neymar, Daniel Alves e Thiago Silva, os alemães Manuel Neuer e Philip Lahm, os espanhóis Sérgio Ramos, Iniesta e Xavi e o francês Franck Ribéry. Da ilustríssima lista, somente Neymar não entrou na seleção de 2013 premiada pela FIFA. Dos 11 melhores de 2013, só não virá ao Brasil o sueco Ibrahimovic.

Nos próximos dias, todos, inclusive Ibrahimovic, estarão disputando o mais importante título da temporada que se encerrará pouco antes da Copa do Mundo. Vão competir com outros craques, nascidos em muitos outros países do vasto mundo da bola, como a Bélgica de Hazard, a Colômbia de Falcao García, a Holanda de Robben e van Persie, a Inglaterra de Lampard e Rooney e o Uruguai de Cavani. As quartas de final da Liga dos Campeões da Europa serão um ensaio de gala para os craques que dominarão o Mundial. Dos verdadeiramente grandes, só não estará representada a Itália do performático Balotelli.

Vão se cruzar, de 1º a 9 de abril, em jogos de ida e volta, as equipes que vêm dominando a competição desde os jogos da primeira fase: Barcelona x Atlético de Madrid, Real Madrid x Borussia Dortmund, Paris Saint-Germain x Chelsea e Manchester United x Bayern.

Dos oito, dois tentarão a conquista do caneco europeu pela primeira vez: Atlético de Madrid e PSG. Chelsea e Borussia, forças em ascensão no continente, vão tentar o seu segundo título. O Manchester ganhou o título três vezes, uma com Cristiano Ronaldo. O Barcelona já foi campeão quatro vezes, três com Messi, a segunda numa final com o Manchester de Cristiano Ronaldo em 2008/09. Na primeira, em 2005/2006, Messi vestia a camisa 30 e era mero figurante do time regido por Ronaldinho Gaúcho, tendo participado de alguns jogos da fase de grupo e das oitavas. O Bayern é penta. O Real Madrid, nove vezes campeão, fez sua última final na temporada 2001/02.

Cristiano Ronaldo tem, pois, a chance de conquistar seu segundo título europeu e há outros desafios e ambições pessoais em jogo.

O português está a um gol de igualar os 14 marcados pelo argentino em 2011/12, melhor marca de um artilheiro em todas as edições da Liga dos Campeões – dividida com José Altafini, o nosso Mazzola, também autor de 14 gols, pelo Milan, em 1962/63, quando a competição ainda se chamava Taça dos Clubes Campeões Europeus. E agora, a partir das quartas, Cristiano Ronaldo terá cinco jogos para estabelecer um novo recorde de gols numa única temporada, desde que leve o Real Madrid à final de 24 de maio em Lisboa, claro.

O argentino pode se tornar o maior artilheiro da história da Liga. Tendo marcado 67 gols até hoje na mais importante competição de clubes do futebol mundial, precisa de mais quatro para igualar a marca de Raúl, que fez 66 em 14 edições com a camisa do Real Madrid e cinco pelo Schalke 04 na temporada 2010/2011.

Bastaria a disputa pessoal entre os supercraques do Real e do Barça para ligar o amante do futebol nas próximas emoções da Liga dos Campeões da Europa.

A competição reserva, porém, outros atrativos ao torcedor brasileiro, começando pela chance de acompanhar em ação boa parte dos escolhidos por Luiz Felipe Scolari para as batalhas da Copa do Mundo, como David Luiz, Ramires, Oscar e talvez Willian, pelo Chelsea; Daniel Alves, talvez Adriano, e Neymar, pelo Barcelona; Thiago Silva e, quem sabe, Marquinhos, pelo PSG; Dante e talvez Rafinha, pelo Bayern; Marcelo, pelo Real Madrid.

E os mais curiosos ainda podem ver o brasileiro Diego Costa, que fez sete gols em cinco jogos do Atlético de Madrid, era pretendido por Felipão, mas preferiu se colocar à disposição da seleção espanhola para disputar a Copa do Mundo.

Neymar, principal aposta do Brasil na conquista do hexa, também começa a jogar nas quartas da Liga dos Campeões uma cartada decisiva para a sua carreira no futebol europeu. Além de se firmar de vez como estrela do Barça, o camisa 10 da seleção pode fazer história como o nono jogador sul-americano a acumular os títulos de campeão da Libertadores, que conquistou com o Santos em 2011, e da Liga, que está tentando com o Barça. Seria, assim, o quinto brasileiro na lista que já tem Cafu, Dida, Roque Junior e Ronaldinho Gaúcho, todos campeões do mundo, como Neymar pretende vir a ser em 13 de julho.

O Capitão

Uma das maiores alegrias que o jornalismo já me deu foi a convivência com Bellini na Copa do Mundo de 1994. Participávamos da mesa redonda comandada por Jô Soares no SBT e, nos voos até Los Angeles para a gravação do programa e em animados jantares após o trabalho, pude curtir longos papos com o Capitão e sua Giselda, apaixonada por cinema. O líder incomparável, reverenciado por Rei Pelé e Garrincha, era um homem tão altivo quanto humilde, que mal se dava conta do mito em que se transformou desde que, em 1958, ergueu aos olhos do mundo a Taça Jules Rimet. Bem antes que ele morresse, na quinta-feira da semana passada, sua discreta elegância já fazia muita falta ao futebol dos nossos dias.

Incomparável grandeza

Na edição de julho de 2008, cinquenta anos depois do primeiro título mundial conquistado pela Seleção, a revista Brasileiros publicou um texto do incomparável rubro-negro Ruy Castro sobre o vascaíno Hideraldo Luiz Bellini, que vale a pena reproduzir, embora parcialmente:

"Em 1962, o Brasil partiu para o Chile a fim de defender seu título de campeão mundial. Os jogadores estavam quatro anos mais velhos, e muita gente boa surgira entre uma Copa e outra. Mas a superstição, a tradição ou seja o que for fizeram com que a então CBD (hoje CBF) resolvesse manter a base do time de 1958. E, com isso, Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo embarcaram como titulares. A única modificação era o quarto-zagueiro do Bangu, Zózimo, reserva em 1958, no lugar de Orlando, então jogando na Argentina – acredite ou não, os jogadores que atuavam fora do país não costumavam ser convocados. (A outra alteração seria uma fatalidade: Pelé se contundiria logo no segundo jogo, sendo substituído pelo botafoguense Amarildo.) Como de praxe em todas as partidas da seleção naqueles quatro anos, Bellini seria o capitão. E Mauro, mais uma vez, seu reserva.

Mas, então, algo aconteceu. Ao ser informado pelo treinador Aymoré Moreira de que, embora estivesse treinando melhor do que todos, continuaria na reserva, Mauro não se conformou. Já fora reserva de Pinheiro, na Copa de 1954, e de Bellini, em 1958. A Copa de 1962, com ele às vésperas dos 32 anos, seria provavelmente a sua última. Diante de Aymoré, foi calmo, mas firme: desta vez, ou jogava ou preferia voltar para o Brasil. Os dirigentes não esperavam por essa reação. Mas Aymoré, safo à beça, não passou recibo. Emendou de primeira:

– Era o que esperávamos ouvir, Mauro. O titular será você. E será também o capitão.

Tudo indicava uma crise na seleção. Onde já se vira um jogador se auto-escalar no grito? E nem Bellini se permitiria ser barrado naquelas condições. Muitos pressentiram ali a taça batendo asas. Pois, para surpresa geral, ao se ver despojado da condição de titular e capitão de um time que tinha tudo para ser bicampeão do mundo, Bellini apenas disse:

– É justo. Agora é o Mauro.

Todos se admiraram. O próprio Mauro se surpreendeu. Quem, além de Bellini, teria essa grandeza?"

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Colunista

Roberto Benevides é jornalista, foi por muitos anos colunista e o editor do caderno de esportes de O Estado de S. Paulo, trabalhou também no JB, na Folha de S.Paulo, nas revistas Veja, Exame, Quatro Rodas, Placar e Época. Nos últimos dois anos, fez a coordenação editorial de uma coleção de 15 livros sobre esportes olímpicos publicada pelo editora do Sesi.