Foi em 2008. Numa conversa com Wagner Ribeiro, o empresário que tinha gerenciado os primeiros passos de Kaká e Robinho no futebol profissional, ouvi:
– O melhor ainda está vindo. É um garoto do Santos, de 16 anos, que arma e lança melhor do que o Kaká, dribla mais que o Robinho e, dentro da área, finaliza como o Ronaldo.
Sem botar muita fé no papo de vendedor, ótimo vendedor, como é Wagner Ribeiro, resumi meu espanto:
– Então, você tem um novo Pelé.
Não, não era Pelé, que, aos 16 anos, já estreara na seleção brasileira. Tratava-se, porém, de um dos seus mais ilustres herdeiros, muito provavelmente o maior jogador de futebol criado na Vila Belmiro desde que o Rei deixou os campos.
Wagner Ribeiro estava falando de Neymar, que, em 2009, pouco depois de completar 17 anos, estrearia no Santos para conquistar, nos anos seguintes, o tricampeonato paulista, a Copa do Brasil e a Libertadores e, em 2010, com 18 anos, vestiria pela primeira vez a camisa da seleção principal, marcando o primeiro gol nos 2 a 0 sobre os Estados Unidos no amistoso que abriu a era Mano Menezes.
De lá pra cá, Neymar consolidou o prestígio de craque, firmou-se como protagonista da seleção, brilhou intensamente na conquista do título da Copa das Confederações em 2013, transferiu-se para o Barcelona, continua encantando o mundo da bola e, dentro ou fora de campo, não esconde jamais o atrevimento típico dos grandes campeões. Numa entrevista publicada na semana passada pelo site da FIFA, ouviu a pergunta:
– Para terminar, queríamos que você completasse a seguinte frase: "Em 2014, Neymar será..."
Segundo o entrevistador, o garoto pensou um pouco e riu antes de responder:
– ... "campeão da Copa do Mundo!"
Felipão também se alimenta desta convicção e, pelo que conhece de futebol e viu de perto na Copa das Confederações, certamente sabe que o sonho do hexa passa pelos dribles, pedaladas e arremates imprevisíveis do jovem craque que marcou 27 gols em 47 jogos pela Seleção, sem jamais fugir ao papel de protagonista que, em outras épocas, foi desempenhado por estrelas como Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo.
Cuidadoso, como são os grandes capitães, o bicampeão Cafu fez, no entanto, um importante alerta durante uma entrevista ao repórter Rafael Reis, da Folha de. S. Paulo, na semana passada: "Esse Brasil de hoje tem um jogador que pode fazer a diferença, que é o Neymar, mas não pode depender só do que o Neymar vai fazer. As seleções de 1994 e 2002 tinham vários jogadores capazes de definir uma partida, agora contamos exclusivamente com o que o Neymar pode fazer. Esse é o perigo..."
Pode ser que o capitão de 2002 esteja certo, mas o futebol coletivo surpreendentemente mostrado na Copa das Confederações dá aos brasileiros a esperança de que Neymar não seja um craque solitário em meio a um bando de pernas-de-pau. Por certo, será o protagonista – talvez até da Copa, se Messi, Iniesta, Lahm, Cristiano Ronaldo, Ribéry e companhia igualmente ilustre não roubarem, em nossa casa, o sonho do hexa. Ao protagonista, se devem juntar coadjuvantes de brilho próprio como Thiago Silva, Marcelo, Paulinho, Oscar...
É imprescindível, porém, que Neymar se assuma como protagonista da companhia, algo que faz parte do seu feitio, embora esteja aprendendo no Barcelona de Messi a também fazer o papel de coadjuvante, uma lição de humildade que não teve a chance de exercitar em sua trajetória no Santos e na seleção. Se Neymar não brilhar como estrela de primeiríssima grandeza em junho e julho, muito dificilmente o Brasil ganhará o caneco pela sexta vez.
Neymar tem crédito com a torcida, pois jamais se escondeu em campo ou fugiu à responsabilidade de protagonista, mas vive um começo de ano atribulado: após sofrer uma torção no tornozelo direito em 16 de janeiro, ainda está voltando aos poucos a jogar pelo Barcelona; enfrenta uma exaustiva discussão entre sócios e diretores do Barcelona, empresários e cartolas do Santos, e autoridades fazendárias da Espanha sobre os múltiplos e complicados contratos que o levaram da Vila Belmiro ao Camp Nou em 2013; separou-se da namorada Bruna Marquezine.
Não é pouco, principalmente para a cabeça de um garoto de 22 anos. É preciso esperar para conferir o quanto os problemas afetarão seu rendimento em campo. Por enquanto, Neymar não parece abalado. "Pelo que vejo, do tempo que passo com ele, acho que está normal", testemunha Gerardo Martino, seu treinador no Barça. Cabe uma ressalva, no entanto, lembra o argentino: "Mas também é verdade que, muitas vezes, nós não exteriorizamos nossos problemas, e muitas vezes você pode se sentir injustiçado. Obviamente, não estamos o tempo todo com o jogador para saber como ele se sente."
Já no amistoso com a África do Sul – dia 5 de março, no Estádio Soccer City, em Joanesburgo – Neymar tem de mostrar que os problemas extracampo não afetarão o fino trato com a bola. A pouco mais de três meses da estreia na Copa do Mundo, nada é mais importante para a seleção brasileira do que cuidar da cabeça do craque. Afinal, como ensinava o filósofo Neném Prancha, patrono deste Apito Legal, "no futebol, a cabeça é o terceiro pé".
E é por ter cabeça boa que Neymar arma e lança melhor do que Kaká, dribla mais que Robinho e, dentro da área, finaliza como Ronaldo.
É mesmo?
Na quinta-feira, dia 20, a presidente Dilma Rousseff fez a alegria dos dirigentes colorados ao participar de uma "inauguração extraoficial" do novo Beira-Rio, com direito a bate bola e tabelinha com jogadores como o argentino D’Alessandro, mas não quis conversa com jornalistas. Segundo Giovanni Luigi, presidente do Internacional, no entanto, "ela disse que ficou incrível, muito melhor do que o Beira-Rio que conhecia antes". Só faltava que, após um ano e três meses em obras que custaram mais de R$ 300 milhões, o Beira-Rio estivesse pior, né?
A conta é nossa
Informação do site Defesanet, que cobriu o Seminário das Seleções organizado pela FIFA, em Florianópolis, na semana passada: "Os investimentos em equipamentos e qualificação de pessoal para a Copa do Mundo de 2014 somam R$ 1,9 bilhão. O total de agentes de segurança e militares envolvidos com o evento é de 150 mil homens. A área de Defesa, que recebeu recursos da ordem de R$ 708 milhões, empregará 20 navios e 60 embarcações de pequeno porte para proteção do espaço marítimo e fluvial, e 48 aeronaves para controle e salvaguarda do espaço aéreo".