O Brasil deve muito a Romário o tetra conquistado em 1994 nos Estados Unidos e a Ronaldo o penta em campos da Coreia do Sul e do Japão. E é do feitio de Felipão armar os seus times com um autêntico centroavante, não obrigatoriamente grosso, mas sempre bom finalizador. O modelo de ataque do Barcelona, mais fluido e maleável, não faz a cabeça do nosso técnico, que tem, então, todos os motivos para torcer e, como bom católico, até rezar pelo completo restabelecimento do centroavante Fred até 12 de junho.
Fred não é um craque à altura de seus ilustres antecessores, acrescentando-se aos dois campeões citados no parágrafo anterior o também inesquecível Careca, mas é um autêntico centroavante, com a vantagem de saber jogar com a bola nos pés e, portanto, dialogar fluentemente com Neymar, Oscar e companhia. A Copa das Confederações, em meados do ano passado, mostrou o quanto ele pode ser útil à seleção.
Se tivesse frequentado mais os campos de treinamento do que as baladas e brigado mais com os zagueiros do que com a balança nos últimos dois anos, Adriano, aquele que já foi imperador da área, seria outra opção para o treinador da seleção, obrigado hoje a pensar em atacantes de menos densidade ofensiva, embora nem sempre de menos qualidade técnica – como o atleticano Jô, o neotricolor Alexandre Pato, o santista Leandro Damião, o palmeirense Alan Kardec... Hoje, é mais provável que a Arena da Baixada fique pronta para a Copa do que o centroavante do Atlético Paranaense volte a jogar futebol.
Felipão aposta, pois, todas as suas fichas em Fred, como apostou em 2002 na recuperação física do fenômeno Ronaldo, apesar da oposição de críticos e palpiteiros de variadas procedências. Acontece que Ronaldo estava empenhado em voltar aos campos depois de gravíssimas lesões e delicadas cirurgias no joelho direito. Fred não enfrentou problemas tão graves, mas vive um difuso quadro de lesões e problemas musculares que o impede, há mais de um ano, de exercer a profissão com alguma frequência.
Se atuasse num futebol mais profissional do que o do Rio, em que os grandes clubes não têm sequer um centro de treinamento, talvez Fred já estivesse curado. Como os resultados do Flu dependem mais do departamento jurídico do que dos departamentos técnico e médico, o centroavante pouco tem conseguido atuar. Afinal, o STJD não tem poder de cura. Levantamento feito na semana passada pelo repórter Rodrigo Paradella, do UOL, mostra que, em 2013, Fred jogou apenas 25 partidas pelo Fluminense. O problema, pois, não é de hoje.
"Fred tem um longo histórico de lesões nos quase cinco anos de Fluminense", lembra o repórter. "Entrou em campo em 181 partidas de 330 disputadas (pela equipe) desde sua estreia, em março de 2009", registrou Rodrigo Paradella antes dos 4 a 1 de sábado sobre o Boavista, pela oitava rodada do Campeonato Carioca. Foi o quarto jogo de Fred nesta temporada em que o Flu jogou oito vezes. Fora de ritmo, movimentou-se pouco, perdeu uma ou duas chances de gol e ainda chutou um pênalti no poste esquerdo de Getúlio Vargas. Ou seja: de janeiro de 2013 até agora, Fred fez 29 jogos com a camisa tricolor, tendo marcado apenas oito gols, o último no 1 a 1 com o Vitória, em 7 de agosto, pela 12ª rodada do último Brasileirão.
Por que diabos, então, Luiz Felipe Scolari tanto o quer com a camisa 9 da seleção na briga pelo hexa?
A campanha na Copa das Confederações é uma boa resposta. Fred jogou as cinco partidas, fez cinco gols e uma assistência, ajudou o Brasil a praticar o futebol combativo e fluente que abateu japoneses, mexicanos, italianos, uruguaios e espanhóis.
Na entrevista coletiva da semana passada, em que anunciou os 'estrangeiros' convocados para o amistoso contra a África do Sul em março, Felipão abriu o jogo: "Se o jogador for da minha confiança total, se eu achar que ainda posso ter mais alguns dias com A ou com B, vou fazer porque eu preciso ter os jogadores em quem confio plenamente. São alguns que têm algumas características diferenciadas, não só dentro do campo como fora. É importante ter um grupo. Na Copa do Mundo são sete jogos, mais amistosos, mais treinamentos, mais aquela aceitação de quarenta e poucos dias juntos, não é fácil. A gente tem de analisar uma série de circunstâncias e, se precisar, vou esperar".
Tradução: não somente para amistosos, mas principalmente para a Copa do Mundo, Felipão vai esperar por Fred até o último minuto. A aposta faz sentido, mas levanta uma grande interrogação: e se Fred não puder jogar a Copa?
Em dois minutos
Nascido em 3 de outubro de 1983, Frederico Chaves Guedes, mineiro de Teófilo Otoni, foi reserva de Ronaldo e Adriano na Copa de 2006, tendo atuado pouco mais de dois minutos na vitória por 2 a 0 sobre a Áustria, em Munique. Substituiu Adriano aos 43 minutos do segundo tempo e, aos 45, fez o segundo gol brasileiro. Por enquanto, é toda a sua história nas Copas do Mundo. Desde a estreia em 2005, substituindo Robinho num amistoso com a Guatemala, Fred disputou 29 jogos pela seleção e marcou 16 gols – nove em 11 jogos sob o comando de Luiz Felipe Scolari.
A Copa da torcida
Do secretário-geral Jérôme Valcke, no site da Fifa: "A enorme procura por ingressos, principalmente por parte dos brasileiros, mas também por torcedores do mundo inteiro, apenas reforça o significado, para qualquer amante do futebol, de se vivenciar uma Copa do Mundo no país pentacampeão mundial. Considerando que cerca de 80% das solicitações foram feitas por residentes do país-sede, não há dúvida de que a experiência que os torcedores terão nos estádios será bem brasileira. Isso é uma motivação e tanto. Afinal, todos se lembram da atmosfera fantástica que marcou a Copa das Confederações".