Apito Legal

O Brasil precisa de Elano, Mr. Kutcher

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28/6/2010

Você se lembra do tempo em que o único cidadão norte-americano interessado no vaivém da bola numa Copa do Mundo era o alemão Henry Kissinger ?

Os tempos mudaram.

Nem bem o Brasil tinha acabado de empatar por 0 a 0 com Portugal, sacramentando a passagem para as oitavas de final como primeiro colocado do Grupo, o ator norte-americano Ashton Kutcher deu as costas à sua Demi Moore para postar no Twitter :

- Esperava mais do Brasil.

Primeiro tuiteiro em todo o mundo a alcançar a marca de um milhão de seguidores, Ashton Kutcher parece realmente preocupado com o ir e vir da bola em campos sul-africanos e, antes mesmo que Donovan & Company fossem mandados de volta para casa pela valente e animada seleção de Gana, já falava em nome dos brasileiros:

- Kaká, o Brasil precisa de você!

Infelizmente, o gringo está apenas parcialmente certo. Ninguém melhor do que o brasileiro Antonio Maria, em seu blog no UOL, resumiu o parco futebol da Seleção em Durban:

- Um 0 a 0 sem Kaká, Robinho, Elano, J. Baptista, Michel Bastos...

Kaká, que infelizmente perdeu a oportunidade de confirmar no jogo contra Portugal a evolução física e técnica exibida nos 3 a 1 sobre a Costa do Marfim, é fundamental para o sonho de chegar ao hexa na África. Não basta, porém, a volta de Kaká nesta segunda-feira, Mr. Kutcher.

O sr. Maria é que está na pista certa : contra o Chile, o Brasil vai precisar de Kaká, Robinho, Elano, J. Baptista, Michel Bastos... Ou seja : o Brasil tem de mostrar novamente o futebol que chegou a ensaiar contra os marfinenses. Quando tem ou retoma a bola, deve tocá-la de pé em pé, buscar as tabelas e as triangulações pelo meio, insistir nas ultrapassagens pelas laterais até abrir os pequenos espaços para a finalização.

De que adianta ter a bola durante 60% do jogo se o time não sabe o que fazer com ela no campo de ataque.

Não se dispensa, é claro, o combate incessante no meio de campo, única virtude que não faltou contra os lusitanos. É preciso adicionar qualidade técnica ao aguerrimento para que Brasil recomposto por Kaká, Robinho e Elano mantenha a tradição contra os chilenos - fregueses muito simpáticos que, graças à saudável loucura do argentino Marcelo Bielsa, oferecerão bons espaços para os contragolpes tão bem ensaiados por Dunga.

Estará em jogo, no Ellis Park, mais do que a vaga nas quartas de final. Tanto pelo peso histórico como pelos resultados recentes nos confrontos com os chilenos, o Brasil é amplamente favorito. O Chile terá cumprido seu papel na Copa, para surpresa de todo o vasto mundo da bola, se abortar em Johannesburgo a caminhada brasileira rumo ao hexa. O Brasil sonha com muito mais. Sonha com o hexa, claro.

Portanto, o Brasil precisa de mais, muito mais bola do que mostrou na sexta-feira, 25, em Durban. Já nesta segunda-feira, Kaká tem de religar as turbinas acionadas contra a Costa do Marfim e compulsoriamente desligadas contra Portugal, Robinho tem de retomar o ritmo e a alegria dos 90 minutos da estreia, Elano tem de voltar ao time como se dele não tivesse saído por obra e desgraça causadas pelo marfinense Tiote.

É, o Brasil precisa de Elano, Mr. Kutcher.

Foi preciso que ele não pudesse jogar contra os portugueses para que os brasileiros dessem a Elano o que é de Elano. Um jogador sóbrio, mas não modesto, o polivalente camisa 7 joga como volante, meia, ala, ponta e, nesta Copa, ainda deu de fazer os seus golzinhos, um em cada jogo de que participou, sem deixar um minuto sequer de praticar o seu futebol valente, dinâmico e solidário.

Não é à toa que, depois dos três primeiros jogos do Brasil na Copa, já não se ouve o barulho dos muitos que exigiam a escalação de Daniel Alves na vaga de Elano.

Com a devida licença dos impecáveis Júlio César, Maicon, Lúcio, Juan e até de Kaká, Robinho e Luís Fabiano, que chegaram a luzir em alguns instantes, dá para dizer que, até aqui, o cara do Brasil na Copa é ele, Elano. Onipresente em todo o lado direito do meio de campo e do ataque, Elano tem sido um raro jogador brasileiro capaz tanto de criar como de aproveitar os espaços abertos nas defesas retrancadas. Às vezes, é arco; às vezes, é flecha.

O Brasil precisa de Elano, que, na Copa, tem sido uma flecha mortífera.

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Confira abaixo a tabela da Copa do Mundo 2010

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Colunista

Roberto Benevides é jornalista, foi por muitos anos colunista e o editor do caderno de esportes de O Estado de S. Paulo, trabalhou também no JB, na Folha de S.Paulo, nas revistas Veja, Exame, Quatro Rodas, Placar e Época. Nos últimos dois anos, fez a coordenação editorial de uma coleção de 15 livros sobre esportes olímpicos publicada pelo editora do Sesi.