O governo Jair Bolsonaro vem se equilibrando em quatro pernas: o maciço apoio empresarial inicial, a firme sustentação militar - na hierarquia e na massa, a concordância potencial da maioria do Congresso Nacional e da imprensa com a agenda econômica e o período de graça na sociedade, natural após rupturas. Beneficia-se também da aproximação com o presidente dos Estados Unidos, e assim evita algumas encrencas conhecidas.
As pesquisas dirão quanto durará a paciência popular com a lentidão da retomada na economia e nos empregos. Vamos ver se, e como, a desaceleração brusca provocada pela pandemia da Covid-19 vai mexer com os ânimos. É possível acabar funcionando de amortecedor das insatisfações. A não ser que o governo mostre uma extraordinária incapacidade de lidar com a situação. O caso italiano.
Há sinais de erosão prematura em alguns pilares. O Congresso acaba de tomar uma invertida do Tribunal de Contas da União, que suspendeu a derrubada do veto presidencial sobre o BPC. Faz parte do processo de retomada pelo Executivo do poder moderador. O TCU argumenta que tem de zelar pelo cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, ao determinar que toda nova despesa precisa ser compensada por uma receita adicional ou corte de outra despesa.
Veremos como o Congresso vai reagir a isso e ao apoio do presidente a atos em que manifestantes pedem o fechamento do Legislativo. A vingança é um prato que na política costuma ser comido frio. Mas vai saber?
Outro foco potencial de perturbação começa a aparecer nas dúvidas crescentes sobre a política econômica. Fica progressivamente claro que o Brasil está contaminado pelo vírus da demanda deprimida. E o encanto da opinião pública com a linha atual parece em diluição. Ainda inicial, mas visível. A palavra de ordem "reformas, reformas, reformas" começa a ser recebida com algum descrédito. Não a necessidade delas, mas a capacidade de enfrentar os desafios imediatos.
Claro que se for dado tempo suficiente, em condições políticas ótimas, toda orientação econômica acaba dando algum resultado. Só que este ano tem eleição municipal, da qual dependem em boa medida os deputados em seus projetos de recondução dali a dois anos. E daqui a menos de três anos tem eleição geral. Daí a importância política de saber se a retomada pós-Covid-19 vai ser em V ou U. Ou se vai acabar sendo um L, com o Brasil continuando a patinar.
A observação de outros países, especialmente China e Estados Unidos, revela ação em duas frentes: medidas para evitar que o excesso de carga acabe colapsando o sistema de saúde e providências para fazer a roda da economia voltar a girar o mais rápido possível. Aqui, a boa notícia para o Brasil é a China já estar em reignição, após conseguir conter radicalmente a expansão dos novos casos. O problema maior ali agora parece ser a importação de infectados.
Comum, em todo canto, o desafio é mostrar serviço, para além do ativismo. Serviço e resultados. Na saúde e na economia. O Brasil ainda não atingiu o ponto crítico em nenhuma das duas frentes. Mas a hora vai chegar.
A única dúvida é quando.