ABC do CDC

Por uma cidade de São Paulo linda e inspiradora

Na coluna de hoje, o autor homenageia a cidade de SP e trata da polêmica questão das pichações, murais e grafitismo.

26/1/2017

Assisti na tevê há cerca de dois dias um debate sobre as pichações na cidade de São Paulo. Ouvi com espanto um arquiteto e urbanista defende-las e dizendo que se tratava de uma forma de expressão política de pessoas que viviam na periferia da cidade. E que, então, a prefeitura não devia se preocupar com a limpeza, mas com a “inclusão” dos vândalos (confesso que, realmente, não consegui entender o que ele quis dizer com a inclusão desse tipo de pessoa).

Porém, o destino não estava ao lado do urbanista. Logo na madrugada do dia seguinte (25 de janeiro) um pichador foi preso ao pintar um monumento de bronze em frente à Catedral da Sé, no centro da cidade. Quem era o pichador? Morador da periferia? Não. Trata-se do filho de um embaixador, que reside numa casa de luxo no Real Park1.

A liberdade de expressão é uma garantia constitucional, mas chega a ser surpreendente o que se ouve em função dela. Nós que somos da área jurídica, acabamos sofrendo murros no estômago advindos de certas falas. Como é que alguém pode ser a favor de pichações? Tanto de prédios públicos quanto privados? Aquelas letras e rabiscos servem apenas para destruir o patrimônio de terceiros ou dos bens públicos e para deixar a cidade feia, suja.

Anoto que não estou fazendo nenhuma consideração a respeito das pinturas feitas recentemente em paredes pela prefeitura que, ao que dizem, apagaram algumas obras, pois não tenho elementos para tanto. E, naturalmente, sou a favor dos murais, das pinturas artísticas e do grafitismo que estão espalhados pela cidade. Pichação é outra coisa: é pura e tão somente uma violação de propriedade alheia. Ademais, para fazer algum tipo de intervenção política é preciso seguir as regras, sem vilipêndio de patrimônio alheio e comunicando alguma coisa, transmitindo algum pensamento.

Mas deixo o feio de lado – já há coisa ruim demais nos noticiários – para falar de coisas boas: São Paulo é uma cidade maravilhosa; tem os melhores serviços do país e que estão dentre os melhores do mundo; seus restaurantes só têm competidores em grandes metrópoles; a Cultura por aqui é excepcional; os centros de compras são incríveis; temos os melhores hospitais e temos universidades de ponta; e mais um longo etc. de qualidades.

Sei que há outras cidades brasileiras belas e exemplares e que os brasileiros são mesmo batalhadores e trabalhadores. Mas, deixemos consignado em homenagem aos 463 anos da Capital Paulista: a população paulistana é trabalhadora de causar inspiração e inveja em todos os lugares do mundo e São Paulo é a locomotiva da nação.

Em 2004, em homenagem aos 450 anos da cidade, publiquei um livro que está esgotado: “Aconteceu em Sampa”. Lá coloquei algumas poesias em homenagem à nossa querida Sampa.

Transcrevo a primeira delas aqui:

Nosso amor

Você dança com estranhos
Briga com os amigos
Aquele bêbado cospe na sua esquina
Você parece que nem liga, menina

Que que há?
O que você tem?
Tá doente?
Sente falta de alguém?

Tá certo que está idosa
Mas, és bela e formosa

Eu sei que às vezes se cansa
Não, você não é mais criança

Um dia a tempestade
N'outro a bonança
Vai, vai minha cidade
Perdoa quem te cansa

Perdoa quem te suja
Você, que é pura esperança
Do dia de amanhã
Surgir verde
Sair dos becos da amargura
Deixar pra lá a rua escura
E dar água a quem tem sede

Vem, aquece quem te humilha
Abraça teus pernetas
Você, que sempre partilha
Teus leitos, tuas sarjetas

Há os que se orgulham de ti
Há os que te maltratam
Acima de tudo, caia em si
Pois há os que te idolatram

Seja plena
Seja bela
Seja forte, serena
Verde-amarela
Seja infinita na janela,
Olhes dentro, vai, tire a tampa
Veja como te amam, Sampa

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Colunista

Rizzatto Nunes é desembargador aposentado do TJ/SP, escritor e professor de Direito do Consumidor. Para acompanhar seu conteúdo nas redes sociais: Instagram: @rizzattonunes, YouTube: @RizzattoNunes-2024, e TikTok: @rizzattonunes4.